sábado, 26 de novembro de 2011

Entre o normal e o que for


Sempre fui uma pessoa tímida e meio solitária. Mesmo quando criança eu não era o tipo de garoto que tem um monte de amiguinhos para brincar. Mas 1996 foi, talvez, o ano mais solitário da minha infância. Tinha nove anos e morei durante oito meses em Florianópolis, Santa Catarina. De fato, um lindo lugar, mas naquela idade a gente não pensa muito nessas coisas.

Estava na terceira série e no meu primeiro dia de aula, em abril, numa escola pública que até hoje é confundida com uma prisão por quem vê de fora e não conhece (sem brincadeira), todos os alunos me olharam com cara de desprezo, só porque eu era o garoto diferente, o paulista japinha que apareceu do nada. No recreio, meus novos colegas de sala, meninos e meninas, me cercaram no pátio e me deram "uma geral", ou seja, eles se juntaram para me encher de porrada. Não ao ponto de eu sair machucado de lá, mas não deixou de doer. Nunca realmente entendi por que fizeram isso e me lembro de ter pensado: "o que há de errado com o mundo?"

Nesta escola fiz só uma amiga eventualmente. Uma grande amiga, aliás, com quem tenho contato até hoje. E quando a gente conversa, muitas vezes nos lembramos de como aquela garotada era precoce e só pensavam em sexo. Crianças de oito a dez anos pensando e falando compulsivamente nisso. Desde aquela época esse tipo de coisa já me incomodava e sempre repudiei essa mania das pessoas quererem ser adultas, como se fosse a libertação definitiva da vida. Mas naquela idade eu inevitavelmente me perguntava se o estranho não era eu.

Aí, uma vez estava brincando com dois amiguinhos, um garoto e uma garota, de quem eu gostava. Ela também gostava de mim e não tinha problema nenhum anunciando isso ao mundo. Eu, por outro lado, não admitia publicamente, porque era tímido demais. Mas enfim: fazíamos de conta que tínhamos uma agência de detetives e montamos um pequeno escritório no quarto, com uma mesinha e uns banquinhos. Em um determinado momento, ela e eu ficamos sozinhos, sentados à mesa, um ao lado do outro, cansados de bagunçar o dia inteiro. Até que ela encostou a cabeça no meu ombro e fechou os olhos. Fiquei sem jeito, claro, mas depois encostei minha cabeça na dela e fechei os olhos também. Foi quando percebi que era essa sensação que eu queria, de ter alguém junto que compartilha um sentimento. Então ficamos desse jeito por um bom tempo.

Estava me lembrando desta história durante uma conversa hoje e me dei conta: 15 anos se passaram e nada mudou. Todos ao redor falando e valorizando as mesmas coisas e tudo o que procuro é uma cabeça que se encaixe no meu ombro. Alguém para compartilhar um sentimento. Estranho como algo simples assim parece estar em falta no mundo. Ou estranho sou eu?

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A realidade não acabou


São quatro horas da manhã de mais uma dessas madrugadas em que a insônia bate com um monte de informações se jogando contra meu crânio querendo sair desesperadamente. Preocupações e problemas que ainda não sei resolver, se é que tem como. Cansei de tentar dormir. Mas durante os breves minutos que consegui fechar o olho tive um sonho.

Na verdade não sei se pode levar este nome. Foi só uma passagem rápida. O que importa é que aqui vale uma nota: eu nunca sonho. Certo, sei que os chatos vão falar que todo mundo sonha todas as noites. Eu sei, é só um modo de falar. Quero dizer que nunca lembro o que sonhei quando acordo. São casos muito raros e que tento apreciar quando acontece. Ano passado, por exemplo, tive apenas uns dois ou três.

Há dois que gostaria de compartilhar. Um deles aconteceu semana passada. Foi também uma noite conturbada, em que eu ficava dormindo e acordando o tempo todo. Foram vários pequenos sonhos, sem começo, sem fim, sem sentido. Um deles, em particular, me fascinou e me fez ficar pensando quando acordei. Nele, tudo tinha a textura de tecido de uma tela de pintura e cores de tinta bem vivas, mas não haviam pinceladas no “quadro tridimensional”. Não lembro nada do que acontecia, mas fiquei tão admirado que consegui dormir e voltar para o mesmo sonho minutos depois só para ficar analisando a imagem dele. Eu sabia que estava em um sonho e só queria olhar pra ele.

O de hoje também não sei o que estava acontecendo. A única coisa que me lembro dele é, na verdade, uma memória que tinha dentro do sonho. E ela é tão viva que até agora fico me indagando se não aconteceu realmente, mesmo sabendo que não. Nesta lembrança, eu tinha chegado em casa, acho que do trabalho, e não havia ninguém. Sentei na sala, liguei a TV e percebi que presa em mim estava uma espécie de bomba. E, por algum motivo, sabia que ela ia explodir se desencostasse do sofá. E aí liguei para um amigo de Campinas, o Bruno, e contei o que estava acontecendo. Ele não soube reagir, nem eu. Então ficamos conversando sobre trivialidades dos nossos dias. Qualquer coisa mesmo, como sempre fazemos. Tudo com um clima de despedida. Enquanto isso eu mexia na tal bomba, até que desconfiei que consegui desarmá-la. Falei para ele o que tinha feito e disse que ia tentar levantar. Ele riu e desejou boa sorte, mas não desligou. Não sei o que fiz, mas quando levantei, ela não explodiu. E a memória do sonho pára aí. O mais engraçado é que, embora minha interação com meu amigo pareça surreal para a situação, é exatamente como nos imagino agindo se realmente acontecesse.

Acho que o mais impressionante deste sonho, além do fato de parecer incrivelmente real dentro da minha cabeça, é a sensação que me passa ainda agora quando me lembro dele. Sinto-me angustiado, solitário, deprimido. Como é que pode um sonho que não tinha nenhum destes sentimentos me deixar impregnado de cada um deles? O da pintura também me encheu com fascinação e melancolia, principalmente. O que mais me abala é que mesmo sendo sentimentos tão ruins em geral, por um breve momento, só por um segundo, desejei que fossem minha vida real.

domingo, 28 de agosto de 2011

[Mês do escritor louco #10] Solipsismo

Como chegara àquele lugar vazio não mais importava. Havia algo de diferente naquela noite. Era uma noite de clima adverso, embora alguns vaga-lumes pairassem vagarosamente de um lado para o outro.

Sua respiração ficou pesada. Um leve e gélido suor passou por suas mãos. Espremeu seus olhos para enxergar melhor ao longe no escuro. O escuro também era diferente do comum. O campo estava banhado pela luz pálida e calma da Lua cheia, mas sua cor era espectral. Nenhuma alma viva estava por perto. Uma leve brisa bateu em seu rosto e um calafrio percorreu seu corpo. Sentiu-se triste por sua solidão.

Era isso. Percebeu sua solidão naquele pedaço de mundo. Não por não haver nada por lá, mas porque, pelo contrário, estava cheio de vidas ao seu redor e que jamais havia notado. Entendeu que, no meio de tudo aquilo, sua existência era insignificante. Sua existência, que segundos antes era a única coisa relevante em seu ponto de vista, mas não sua presença ali. Esta haveria de ser lembrada para sempre.

Seu coração se acalmou. Nada mais parecia obscuro: era tudo perfeito. Com um sorriso de despedida e uma breve reverência, virou-se e foi embora. Voltou muitos anos depois acompanhada de sua filha, que disse: “O que queria me mostrar? Não há nada aqui.”


10 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

[Mês do escritor louco #9] Alardeio promissivo

Escrevi um parágrafo promissor. Na passagem, o bravo (ou brava) jovem se esgueirava pelo campo aberto e deserto, exceto pela grama e pelo único conjunto de árvores que ali se encontrava. Então, ao procurar uma resposta naquele vazio, viu-se no meio de uma multidão de vida e entendeu sua insignificância perto de um mundo muito maior do que o que habitava em sua psique.

Era mesmo um bom parágrafo. Busquei nos mais profundos cantos dos meus conhecimentos, da minha criatividade, dos meus sentimentos, das minhas experiências, das minhas visões e das minhas cegueiras o conteúdo para continuar. Aquele seria meu melhor conto. Talvez meu melhor texto. Não havia dúvidas disto: em breve terminaria aquela história e me orgulharia de meu trabalho, encantaria o mundo com minha prosa e poetas mudariam seus estilos literários por minha influência.

Ora, quem nunca se sentiu assim? Às vezes isso acontece. A gente pensa que descobriu um novo universo, cheio de possibilidades, cheio de vida, cheio de coisas novas. Mas a gente se engana. Tudo bem. É só tentar mais uma vez e procurar um diferente ângulo. Tão diferente que, esse sim, será um novo universo.


2 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

[Mês do escritor louco #8] Decidida indecisão

As pessoas deveriam ser mais impulsivas em momentos de indecisão. Quantas vezes não aconteceu de ficar pensando se fazia uma coisa ou outra e, quando viu, era tarde demais: não fez nada. Por quê? Medo da reação? De estragar tudo? As probabilidades são de que, no fim das contas, tudo tenha estragado de qualquer maneira se não agiu. E da pior forma possível. Foi assim mesmo? Você se arrepende?

Seja num amor não declarado ou ao tentar decidir onde sentar no cinema.

Ao pensar se aceitava sair ou não quando recebeu um convite dos amigos e perguntou quem mais ia.

Ao pensar se falava ou não com alguém que encontrou por acaso. Talvez aquela pessoa que veio te pedir informação na rua.

E aquele dois, casal perfeito, que se gostavam, mas tiveram medo de se arriscar e enfrentar o mundo e a si mesmos? Terminaram separados sem nunca terem ficados juntos.

E os outros dois, casal que se dava mal, que por comodidade ficaram juntos para sempre na infelicidade?

Pense menos. Aja mais. Dê mais valor aos seus sentimentos, seus impulsos, seus desejos. Deixe que eles tomem conta de vez em quando. A vida não é feita de planos perfeitos e o que nós somos não é feito de decisões certas, mas de erros e das lições aprendidas com eles.

E então? Já pensou em se jogar na vida nos momentos em que você mais merece dela?


8 de janeiro de 2010

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

[Mês do escritor louco #7] Só uma curiosidade

Ela era curiosa. Gostava de entender como tudo funciona, numa ciência precisa e maravilhosa. Mas também tinha uma atração secreta pelas qualidades subjetivas da mente humana e queria saber o que é a curiosidade.

Para descobrir e conhecer, ela era tudo! Era a irmã, a filha, a amiga, a garota que todo mundo quer, a garota que todo mundo teme. Ela era a profissional, mas às vezes preferia ser a amadora. Era uma seguidora de regras, de caminhos, setas, receitas e passos. Mas, por vezes, dizia: “Dane-se” e então era a garota revolta.

Ela era a pesquisadora de espírito científico, mas, nos sentimentos, seu espírito era puro coração. Era um enorme bloco de gelo, mas por dentro corria lava incandescente e, quando esfriava, virava a pesada pedra que segurava do vento as folhas de papel que lia.

Ela era frágil como o ódio, forte como um sussurro apaixonado. E paixão não lhe faltava: a existência era sua paixão, acompanhada de mistérios sem respostas e uma pitada de sentimentos subjetivos, para dar um gostinho especial. E a curiosidade era o ponto fraco que lhe dava energia, seu ponto forte que degringolava.

Mas, apesar de tudo, não encontrava suas respostas. E ela ainda queria saber: o que é curiosidade? Então procurava de novo.


12 de dezembro de 2009

terça-feira, 16 de agosto de 2011

[Mês do escritor louco #6] Um segundo

Já parou para pensar em quanto tempo perdemos e ignoramos em nossas vidas corridas? E o quanto poderíamos fazer com esse tempo que vai acumulando? Ler um livro, ver um filme, viajar? Tem tanta coisa.

Mas nem precisamos ir muito longe. O tempo todo perdemos segundos. E cometemos a tolice de não darmos o menor valor para cada um deles.

Um segundo pode ser o que falta para poder ver algo belo quando se está em alta velocidade numa estrada.

Com um segundo na frente você pode pegar o ônibus que já está saindo e, assim, chegar meia hora mais cedo em casa.

Um segundo pode ser tudo o que você precisa para terminar a resposta daquela prova difícil que já está acabando.

Em um segundo você pode sentir um monte de coisas diferentes. E ganhar seu dia com isso.

Num segundo a mais você pode pensar melhor e fazer uma escolha diferente da que faria. Uma escolha melhor.

Mais do que isso, um segundo pode definir se você vai conseguir dizer “eu te amo” ou não para alguém que está partindo.

Um segundo e sua vida muda.


9 de dezembro de 2009

sábado, 13 de agosto de 2011

[Mês do escritor louco #5] Poesia em prosa

O que é poesia? Diversos versos dispersos em linhas com rimas alternantes e métricas abundantes? É pouco, mesmo sendo loucos os esforços para dar nome simples e uniforme ao desconexo complexo labirinto das palavras. Pois poesia também é energia, é a magia do olhar, a grafia do pensar, a folia da mente perante um coração ardente que bate sem fraquejar.

Já deve ter dito um poeta, tido filósofo da sensação indiscreta, que o lirismo em versos é viver a aventura de ser o ser que se quiser, o desejo e a espera ao ensejo do cortejo expresso num soneto à dama que se quer.

Enfim, simples assim, é a catarse da existência num impasse de essência. É o momento em que a gota de orvalho cai, em que a folha ao vento se vai, em que se permutam as alianças e as lembranças de duas almas que se fundem e viram uma.

Poesia é o gostoso da vida, o formoso de toda rosa.
E a vida é poesia em prosa.


24 de agosto de 2009

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

[Mês do escritor louco #4] O que sobra?

Cansa a superficialidade das pessoas. Por que insistem em querer parecer algo que não são? Será que é tão ruim assim o verdadeiro “eu” delas? Será que o que os outros pensam importa tanto?

Debaixo de todas as máscaras existe uma pessoa linda. Literalmente sem exceção! Mesmo as que odiamos, que pensamos não serem dignas da vida em si. Provavelmente não são mesmo, mas essa é só a face exterior delas.

Pense bem. Todos amam, todos choram, todos sorriem. Todos precisam se alguém ao lado. E não é isso que somos? Sentimentos, intuições, instintos. O que fazemos, demasiadamente, é cobrir nosso âmago com motivos vazios, algo que justifique. Porque as pessoas esperam justificativas e é aí que toda a falsidade egomaníaca começa.

Depois de todas as camadas externas, o que sobra é o que de fato somos, mas nos esquecemos ou nos recusamos aceitar. E você? Pretende deixar assim? Será que você entende quem você realmente é?


28 de julho de 2009

domingo, 7 de agosto de 2011

[Mês do escritor louco #3] Talvez falte...

Talvez falte amor no mundo. Pessoas se matam e fazem guerra o tempo todo por qualquer motivo. A própria paz é “razão” para desencadear uma batalha mortal entre nações, governos, pessoas.

Talvez falte caráter. Pessoas só fazem a coisa certa quando tem alguém olhando. Isso quando fazem a coisa certa. Elas deveriam pensar no bem supremo, no que há de melhor para a sociedade e para todos que vivem neste frágil planeta. Não deixar que tudo seja aparência, que tudo seja pose.

Talvez falte educação e cultura. Em todos os sentidos. Educação para com os outros. Cultura como conhecimento da vida, do bom senso, do certo e do errado, do bem e do mal. Não que as coisas sejam assim, preto no branco. Sei que há uma porção enorme de tons de cinza, mas é bom saber diferenciar. Não para escolher um lado e ficar, mas para saber se guiar. Todas as ações geram reações boas e ruins. Portanto, conheça os tons de cinza.

Talvez falte filosofia. Pensar mais no motivo do mundo ser o que é, de pessoas serem o que são. Entender como tudo ficou assim e para onde vai. Refletir e buscar um futuro ideal. Para todos. Para tudo.

Talvez falte amizade. Nem sempre podemos ajudar alguém, nem sempre podemos resolver todos os problemas, nem sempre podemos salvar o mundo. Mas podemos estar lá. Já pensou nisso? Às vezes isso é tudo o que uma pessoa precisa para se levantar e continuar andando. Nem sempre são necessárias palavras, atitudes e grandes feitos. É só simplesmente estar lá por alguém que precisa. Mais nada.

Talvez falte você. Porque você é parte de tudo isso e nunca se deu conta.


8 de julho de 2009

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

[Mês do escritor louco #2] Wondering to wonder

I always wonder if I make the right choices. Right now, I have a pen in my hand, writing and soaking the white paper with wasted ink as I still wonder if I'm wrong. To share my opinion, my ideas, my thoughts... Is it safe? Is it wise? Am I changing someone? Am I making a difference? Is that a good or a bad thing? Or is there someone laughing as this person reads my very naked soul?

I wonder, I ask, but I don't get any answer at all. There is no one to answer me anything. It is all in vain and I pity myself. Such a poor and clueless human being.

Wait. What? Am I human? Did I said that? I really am, am I not? Just like you... So why do we feel so different from each other? What separates us? The answer is nothing. We are all the same, but we create differences so we can feel special. We are special besides that, we just can't seem to accept it. We live in blindness, darkness and craziness for nothing.

But I can't stop any of that. To wonder is to be myself. It is my way of doing things, understanding them, fighting against ourselves. Would you all like to come with me? We don't have to live in loneness too. Take my hand and let's go to somewhere else, where we can be whatever we want to and, still, be who we really are. Let's wonder together!


8 de abril de 2009

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

[Mês do escritor louco #1] Homem: Remoto Controle

Era tudo uma grande e sem graça piada. Jamais acordaria daquele jeito novamente. Pé esquerdo ou direito, que diferença faz? Mas acordar com o corpo inteiro já é uma metáfora exagerada. Aquele homem sabia seu lugar no mundo! Quem o destino pensa que é tentando segurá-lo? Cair da cama e fazer o silencioso som de um peso morto embrulhado no cobertor ao tocar o chão é humilhante para alguém como ele.

Levantou-se e seguiu em frente. Aquele dia havia de começar, não importava como. Se já estava acordado, então que isso seja útil de alguma maneira. Tomou um banho, escovou os dentes, fez a barba, vestiu seu melhor terno e passou seu melhor perfume. Estava perfeito, como em todos os outros dias. Vivia sua rotina exatamente assim: o mais cotidianamente possível, com seus planos e suas regras. Não há espaço para surpresas. Considerava todos os acontecimentos minuciosamente previsíveis e suas soluções eram preparadas de antemão.

Seu relógio de punho marcava sete horas e quarenta e oito minutos da manhã. Sincronia perfeita! Em apenas 7 minutos passaria pela entrada do prédio onde trabalha e chegaria meia hora mais cedo, como sempre o fez. Estacionou o carro e saiu. Andando pela calçada, uma elegante mulher passou por ele enquanto o cumprimentava. Ele devolveu a gentileza, mas estava perplexo: por que alguém diria algo, mesmo tão trivial como um "oi", para uma pessoa que nunca viu, assim, aleatoriamente na rua, sem a intenção de parar para conversar?

Ele virou para olhá-la, talvez até chamá-la, mas esta já havia desaparecido de vista. Não tinha jeito, precisava se apressar ou se atrasaria em sua própria rotina. Mas isso não importava. Seu desempenho no trabalho foi pobre, estava sempre distraído, algo continuava martelando incansavelmente sua mente. Tentava, mas não conseguia se livrar da lembrança do incidente. O que se passou na cabeça da elegante mulher que vira? Ele era um homem de recursos e de padrões, portanto decidiu que criaria um plano infalível para revê-la e perguntar o motivo de ela ter feito tudo aquilo. Com certeza encontraria um modo, ele controla seu rumo, é senhor de seu destino.

Até o fim de suas vidas, nunca mais se encontraram. O que ninguém sabe é que foram enterrados um ao lado do outro.


23 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Agosto, mês do escritor louco


Resolvi dar uma explicação do que acontecerá aqui no blog nas próximas semanas. Alguns poucos sabem que eu costumava escrever textos usando um heterônimo, que não vou revelar o nome. Quem conhecia, significa que confiei muito na pessoa, e quem não conhecia, já não importa mais. De qualquer forma decidi “despublicá-los” de onde estavam e postá-los aqui, no Chuta & Corre!, que não é o lugar deles, mas é o meu.

Já que agosto é o mês do cachorro louco, eu adoro cães e tive um distúrbio de personalidade com um heterônimo, nada melhor do que misturar tudo numa gororoba lírica. Ao todo serão dez textos publicados a cada três dias durante todo o mês de agosto. Ou, pelo menos, assim pretendo. Eles não terão o formato padrão do blog e nem imagens para ilustrá-los. Além disso, em geral, têm uma linguagem e uma visão de mundo que não costumo usar aqui, afinal, eram de um heterônimo, então nada mais justo do que ser diferente de mim. Então vocês verão crônicas, contos, pensamentos aleatórios e até poesia. Mas tenho certeza de que há um jeitinho meu inconfundível por lá, então será divertido ver a reação.

Quero aproveitar e destacar que três dos textos foram copiados pela internet sem créditos ao autor (que tecnicamente não existe). Se procurarem no Tio Google irão encontrá-los por aí. No começo fiquei frustrado, mas agora não ligo mais.

Enfim, agradeço fortemente quem puder visitar o Chuta & Corre!, acompanhar durante o mês de agosto, ler e comentar os textos que estão por vir. A proposta deste blog sempre foi publicar idéias, pensamentos e comentários que pudessem divertir e, quem sabe, até propor reflexões para quem estiver disposto a abrir a cabeça. Espero continuar com isso e o fato é que mesmo um escritor de calçada não é nada sem leitores, então não sou nada sem vocês. Obrigado!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Invisível? Quem?


Já teve a impressão de ser invisível? Ou muito insignificante? Dá vontade de procurar um espelho para ter certeza de que você continua existindo. Sempre fico perplexo com isso. Aconteceu algo comigo minutos depois de escrever o texto passado na praça de alimentação lá da Universidade São Judas. O lugar estava relativamente vazio e um grupo se acomodou em uma mesa ao lado de que eu estava. Foi então que chegou uma menina, daquelas escandalosas que gostam de se mostrar, e se juntou a essa galera... Na minha mesa.

Esqueça. A última frase não fez jus ao momento: ela atacou violentamente o material dela em cima da minha mesa, não se importando com as minhas coisas, e se sentou. Xingou alguma professora por um motivo ou outro aos gritos e reclamou de notas dando murros onde uma certa pessoa escrevia o rascunho deste texto. E tudo em volta vazio, como se fosse mal assombrado. Tinha, pelo menos, sete outros lugares nos quais ela poderia ter sentado e esmurrado à vontade. Mas ninguém me notou!

Como eu disse, isso me deixa muito fascinado. Algo que acontece bastante é o lugar ao seu lado em um transporte público ficar sempre vago. É como se você fosse um excremento humano. Pode parecer o contrário de invisibilidade, mas não é! Ninguém te olha, apenas evitam ficar perto por instinto. Sequer notam o que fazem ou sabem que você está ali. Seu perfume francês, suas roupas elegantes e aquela expressão alegre, simpática e acolhedora no seu rosto não têm a menor importância. E quando senta alguém é porque a pessoa te ignora completamente e pensa que os dois bancos são dela.

Mas meu caso preferido é no mercado. Todas as senhoras fazendo compras e sem senso de espaço simplesmente se aglomeram ao seu redor. Quando você percebe, está cercado por uma barreira de carrinhos que carregam crianças histéricas. Todo mundo precisa compulsivamente do produto que está ao seu lado. Toalha? Shampoo? Engradado de sucos daquela marca que ninguém nunca ouviu falar? Detergente com aroma de queijo gorgonzola? Não importa! A vida dessa gente depende daquilo.

Só que absolutamente nada supera quando as pessoas falam de você como se você não estivesse ali. Porque esse, meus amigos invisíveis, é o fundo do poço. E aí não sobra mais nada para espelho algum refletir.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Oi, tchau de novo


Depois de praticamente seis meses voltei à Universidade São Judas Tadeu, campus Mooca, pegar um documento. Foi tão estranho estar lá com o diploma em mãos (literalmente), olhando em volta, vendo velhos rostos, todos desconhecidos, ouvindo novas músicas com o fone de ouvido, sentado no mesmo lugar da praça de alimentação que sentei nos últimos quatro anos.

As pessoas ao redor me olhavam com uma expressão de desconfiança. Provavelmente por eu estar rindo sozinho, descaradamente, enquanto observava a ironia da cena. Aquele tipo de ironia que só minha mente deturpada consegue captar no ar. Ou no próprio nome da Universidade, afinal, São Judas é o padroeiro das causas perdidas e desesperadas e isso sempre me fascinou.

A vontade que tive durante minha visita foi de andar por lá, ver o que mudou desde que saí pela última vez. Mas sei que não preciso. No fundo continua tudo igual, mesmo tão diferente. Os alunos tomando aquele chá horrível, os diversos funcionários, a professora comprando torradas com geléia (manteiga não, por causa da intolerância a lactose). A sensação era de que ia chegar alguém que conheço para desabafar comigo sobre as provas e trabalhos, típicos desta época do ano.

Mas não há ninguém. Todos já se livraram desses fardos. Então fico lá, sozinho, pensando que quando sair do campus mais uma vez vou olhar para trás e dizer: “Espero nunca mais voltar aqui. Tchau, São Judas. Tomara que minha causa tenha sido perdida ou desesperada o bastante para você”.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Atualizações, tweets, quilogramas, atualizações... [+ Aniversário]


Era uma vez um idiota que não atualizava o blog há cerca de seis meses. E culpa é do Twitter, que suga todas as minhas piadas e comentários interessantes em apenas 140 caracteres. Se cada assunto escrito lá por mim virasse um texto, este blog estaria não apenas alimentado, mas gordo. Um balofo lírico. Em vez disso, sou eu que fico maior, comendo besteira e me movendo muito pouco.

Recentemente descobri que engordei quase 4kg desde janeiro. É desesperador. Preciso levantar minha bunda gorda e fazer alguma coisa. Um exercício. Precisava de um lugar que desse para andar/correr, mas a zona norte de São Paulo é, por assim dizer, ladeira pura. Mas acho que a idéia do exercício não é o excesso do esforço, mas sim o equilíbrio físico. Olha só, filosoficamente falando, eu já podia me tornar um personal trainer.

Sendo assim, eu aceitaria uma esteira de presente para correr no meu quarto! Mas todo mundo diz que se eu tivesse, não usaria. Bom, é uma pena que eu não posso fazer uma aposta em cima disso por enquanto, não é? Aliás, aposto que eu atualizaria mais o blog se eu tivesse uma esteira!*

* Vai que cola.

A propósito, notei que o Word marcou como erradas as “idéias” do texto. Quer dizer que o Word 2010 já está com a frescura da nova ortografia? Bem, então vá à merda, Microsoft, porque ainda tenho um ano para escrever como eu quiser no MEU blog sem que esteja, de fato, errado!

Caramba... Só um ano! Tenho que atualizar mais para aproveitar o tempo que resta antes que o apocalipse ortográfico seja totalmente oficial! E ainda duvidam que 2012 é o fim...

* Atualização feita em 8 de julho de 2011: MALDIÇÃO! ESQUECI O ANIVERSÁRIO DO BLOG DE NOVO! Dia 7 de abril sempre passa reto!