sábado, 17 de novembro de 2012

Palavras sem sentença


Há algum tempo um colega do trabalho estava lendo meu querido e abandonado blog e me passou um link com textos de uma amiga, dizendo que nossas escritas eram um pouco parecidas. Fiquei curioso e resolvi conferir. Foi como uma prazerosa autoflagelação.

Achei uma comparação injusta: quem dera eu estivesse no mesmo nível. Senti um pouco de inveja. Nem tanto pela escrita, que é muito boa, mas pela quantidade de textos que ela produz. Queria escrever tão frequentemente. Antigamente era tão fácil, tão rápido. Um por semana! Agora são alguns poucos e sem graça por ano. Queria entender o que mudou.

Ideias me vêm o tempo todo, mas nunca consigo expor. Não sinto mais a empolgação de brincar com as palavras, não porque não quero, mas parece que não sei mais como faz. As palavras vêm à mente e se juntam com perfeição, mas na hora de sair elas se escondem, fingem que nunca existiram e a composição se perde no caminho. Meu último texto levou quase um mês para ficar pronto e nem consigo me sentir orgulhoso dele. É quase como se ele tivesse saído por dó.

Acontece que essas leituras me deram vontade de escrever de novo. Mas o quê? Ideias simples não são mais o bastante em minha alma. Coisas complexas soam inexequíveis na mente. Até a metalinguagem, a arma tapa-buraco mais sem vergonha do universo verbal não parece mais ter utilidade. Então dá a impressão de que nada sai e fica a sensação de que tudo está preso para sempre.

Talvez seja esse meu problema. Agora tudo o que escrevo precisa ser alguma coisa, ter uma estrutura X, um conteúdo Y e um final Z... Antes eram apenas palavras despretensiosas que, por agradável acaso, estavam juntas e formavam algo qualquer. Mas algo vivo. Isso me divertia. Foi o que percebi quando vi alguns dos textos dela em que, de forma belamente natural, cada palavra me despia, me envergonhava e me encantava com verdades. E foi ótimo.

Saudades de ser interessante de ler.