sábado, 26 de novembro de 2011

Entre o normal e o que for


Sempre fui uma pessoa tímida e meio solitária. Mesmo quando criança eu não era o tipo de garoto que tem um monte de amiguinhos para brincar. Mas 1996 foi, talvez, o ano mais solitário da minha infância. Tinha nove anos e morei durante oito meses em Florianópolis, Santa Catarina. De fato, um lindo lugar, mas naquela idade a gente não pensa muito nessas coisas.

Estava na terceira série e no meu primeiro dia de aula, em abril, numa escola pública que até hoje é confundida com uma prisão por quem vê de fora e não conhece (sem brincadeira), todos os alunos me olharam com cara de desprezo, só porque eu era o garoto diferente, o paulista japinha que apareceu do nada. No recreio, meus novos colegas de sala, meninos e meninas, me cercaram no pátio e me deram "uma geral", ou seja, eles se juntaram para me encher de porrada. Não ao ponto de eu sair machucado de lá, mas não deixou de doer. Nunca realmente entendi por que fizeram isso e me lembro de ter pensado: "o que há de errado com o mundo?"

Nesta escola fiz só uma amiga eventualmente. Uma grande amiga, aliás, com quem tenho contato até hoje. E quando a gente conversa, muitas vezes nos lembramos de como aquela garotada era precoce e só pensavam em sexo. Crianças de oito a dez anos pensando e falando compulsivamente nisso. Desde aquela época esse tipo de coisa já me incomodava e sempre repudiei essa mania das pessoas quererem ser adultas, como se fosse a libertação definitiva da vida. Mas naquela idade eu inevitavelmente me perguntava se o estranho não era eu.

Aí, uma vez estava brincando com dois amiguinhos, um garoto e uma garota, de quem eu gostava. Ela também gostava de mim e não tinha problema nenhum anunciando isso ao mundo. Eu, por outro lado, não admitia publicamente, porque era tímido demais. Mas enfim: fazíamos de conta que tínhamos uma agência de detetives e montamos um pequeno escritório no quarto, com uma mesinha e uns banquinhos. Em um determinado momento, ela e eu ficamos sozinhos, sentados à mesa, um ao lado do outro, cansados de bagunçar o dia inteiro. Até que ela encostou a cabeça no meu ombro e fechou os olhos. Fiquei sem jeito, claro, mas depois encostei minha cabeça na dela e fechei os olhos também. Foi quando percebi que era essa sensação que eu queria, de ter alguém junto que compartilha um sentimento. Então ficamos desse jeito por um bom tempo.

Estava me lembrando desta história durante uma conversa hoje e me dei conta: 15 anos se passaram e nada mudou. Todos ao redor falando e valorizando as mesmas coisas e tudo o que procuro é uma cabeça que se encaixe no meu ombro. Alguém para compartilhar um sentimento. Estranho como algo simples assim parece estar em falta no mundo. Ou estranho sou eu?