terça-feira, 25 de outubro de 2011

A realidade não acabou


São quatro horas da manhã de mais uma dessas madrugadas em que a insônia bate com um monte de informações se jogando contra meu crânio querendo sair desesperadamente. Preocupações e problemas que ainda não sei resolver, se é que tem como. Cansei de tentar dormir. Mas durante os breves minutos que consegui fechar o olho tive um sonho.

Na verdade não sei se pode levar este nome. Foi só uma passagem rápida. O que importa é que aqui vale uma nota: eu nunca sonho. Certo, sei que os chatos vão falar que todo mundo sonha todas as noites. Eu sei, é só um modo de falar. Quero dizer que nunca lembro o que sonhei quando acordo. São casos muito raros e que tento apreciar quando acontece. Ano passado, por exemplo, tive apenas uns dois ou três.

Há dois que gostaria de compartilhar. Um deles aconteceu semana passada. Foi também uma noite conturbada, em que eu ficava dormindo e acordando o tempo todo. Foram vários pequenos sonhos, sem começo, sem fim, sem sentido. Um deles, em particular, me fascinou e me fez ficar pensando quando acordei. Nele, tudo tinha a textura de tecido de uma tela de pintura e cores de tinta bem vivas, mas não haviam pinceladas no “quadro tridimensional”. Não lembro nada do que acontecia, mas fiquei tão admirado que consegui dormir e voltar para o mesmo sonho minutos depois só para ficar analisando a imagem dele. Eu sabia que estava em um sonho e só queria olhar pra ele.

O de hoje também não sei o que estava acontecendo. A única coisa que me lembro dele é, na verdade, uma memória que tinha dentro do sonho. E ela é tão viva que até agora fico me indagando se não aconteceu realmente, mesmo sabendo que não. Nesta lembrança, eu tinha chegado em casa, acho que do trabalho, e não havia ninguém. Sentei na sala, liguei a TV e percebi que presa em mim estava uma espécie de bomba. E, por algum motivo, sabia que ela ia explodir se desencostasse do sofá. E aí liguei para um amigo de Campinas, o Bruno, e contei o que estava acontecendo. Ele não soube reagir, nem eu. Então ficamos conversando sobre trivialidades dos nossos dias. Qualquer coisa mesmo, como sempre fazemos. Tudo com um clima de despedida. Enquanto isso eu mexia na tal bomba, até que desconfiei que consegui desarmá-la. Falei para ele o que tinha feito e disse que ia tentar levantar. Ele riu e desejou boa sorte, mas não desligou. Não sei o que fiz, mas quando levantei, ela não explodiu. E a memória do sonho pára aí. O mais engraçado é que, embora minha interação com meu amigo pareça surreal para a situação, é exatamente como nos imagino agindo se realmente acontecesse.

Acho que o mais impressionante deste sonho, além do fato de parecer incrivelmente real dentro da minha cabeça, é a sensação que me passa ainda agora quando me lembro dele. Sinto-me angustiado, solitário, deprimido. Como é que pode um sonho que não tinha nenhum destes sentimentos me deixar impregnado de cada um deles? O da pintura também me encheu com fascinação e melancolia, principalmente. O que mais me abala é que mesmo sendo sentimentos tão ruins em geral, por um breve momento, só por um segundo, desejei que fossem minha vida real.