quarta-feira, 5 de maio de 2010

Eu tomo uma Coca-Cola e ninguém pensa em casamento


Esses dias eu cheguei ao meu trabalho, cansado da vida e de pessoas megalomaníacas, angustiado com as injustiças de religiosos e políticos, imerso em pensamentos sobre a existência que pesam como o mundo nos ombros de Atlas. Entrei, cumprimentei todos os presentes e fui para a próxima sala, onde fica o computador que uso. E então vi uma miragem, uma aparição divina, uma imagem fantasmagórica completamente sobrenatural nesta dimensão do multiverso. Em cima de minha mesa havia uma lata de Coca-Cola. Com um laço.

Uau! Passei um ano sem beber nenhum tipo de refrigerante. O motivo? Não faço a menor ideia. Mas foi bom, parei de ter azia frequentemente, dei uma emagrecida (por uns tempos) e acho que limpei um pouco meu organismo – ou seja lá o que sobrou dele. De qualquer maneira, foi difícil acreditar que aquilo era meu.

A ansiedade tomou conta. Descobri que minha boa samaritana foi a Renata, uma ótima amiga do trabalho a quem sou eternamente grato! Imediatamente coloquei a lata no congelador para gelar bem rápido. Cerca de uma hora depois eu a retirei e a abri. Ah, o som do gás saindo e do alumínio se rompendo. O “click” nostálgico do pecado. Muitos falaram que eu não deveria voltar a beber, outros que eu me desacostumaria após tanto tempo e não conseguiria apreciar os primeiros goles depois da longa e cruel abstinência. Mas eu queria colocar tudo isso a prova. E provei.

O primeiro gole desceu gelado e ácido. Fechei os olhos. O gás pesado na garganta, o gosto indescritível do líquido negro da corrupção preenchendo cada pedaço de meu ser, afogando todas as mágoas enquanto minha existência se afogava junto na insanidade metafísica do prazer desesperado. Nenhum amor importava mais, nenhuma tristeza me deprimia, nenhuma injustiça me derrubaria e nenhuma força seria inexorável o bastante para apagar o sorriso envenenado pela felicidade da conquista em minha alma. Eu era completo novamente, como não o fui durante tanto tempo. Tomei outro gole para celebrar.

12 comentários:

Jefferson Sato disse...

Revivi este blog esquecido por Deus... E por mim.
Ainda tem outros trÊs textos na minha cabeça que precisam ser feitos. Tomara que sejam mesmo.

Nath disse...

HAHAHAHAAHHAAHAHAHHAA
Muita emocao pra uma latinha de Coca Cola!
do jeito que voce escreveu, parecia que o trem era um tesouro!

Adorei a parte da surpresa :)
sao nessas horas que as pessoas mais especiais fazem algo simples que nos deixam tao felizes!

beijo sato!
mais ainda prefiro sprite. ahahha

vanessa disse...

hauhauhauauahua adorei Satinho..

Acredite, imaginei um filme com vc tomando essa Coca.

beijooo

Leandro disse...

AHSHASHAHSAHSHASH

Que engraçado esse texto. Bonito também. O último parágrafo é genial. Parabéns! =)

Faltou vc dizer que bebe uma coca-cola e ela pensa em casamento. ahshashas

Tchau!

Raphael "TT" disse...

Santa Coca-Cola!!!
Tomei uma garrafa quase inteira ontem.

Jefferson Sato disse...

O título foi trocado de "Néctar dos Deuses" após me inspirar na sugestão do Leandro.
Valeu garoto! Por isso eu te amo! Não sei como não pensei nisso antes!

Waleska disse...

Hsuahsuahua Uma latinha de coca-cola nunca foi tao celebrada assim... Heheheh

=P Parabéns Jeff, conseguiu atingir tua... (meta?).
=D
E achei muito fofo o ato da tua amiga.

Icaro Rv disse...

eu parei de comer carne... jah faz uns 3, 4 meses...
sem motivo algum...

e to esperando o dia que eu vou chegar em casa e vai ter uma "costela" num laço em cima do meu PC!

Nath disse...

agora voce tem que explicar o motivo do titulo... porque eu fiquei sem entender xDD

Uma costela num laco em cima do pc, Icaro?... fico imagino os dedos engordurados no teclado, hahaha

Daniela Maria Guedes disse...

Seu reencontro com a coca-cola foi bem mais romântico que o meu - após largar alguns idealismos da adolescência, bebi um copo do liquido negro em uma festa do ônibus da faculdade, assim num impulso, sem pensar, sem vontade, sem nada. Foi uma sensação estranha porque naquele momento eu acabara de vez com o idealismo que tinha me afastado da coca-cola (e de todos os seus semelhantes). O primeiro gole veio ácido, forte, depois desceu normalmente, mas sem grandes prazeres como foi pra você.

Os textos DELE são peculiares. Adoraria ler um por dia desse autor que escreve um bocado parecido com a Lispector. =)

Editorial D. Dal Seno disse...

Esse é o Gosto do capitalismo! É claro que isso vai te matar!

Gisele Silva Salvador disse...

Já tinha liiiido! É que tenho mania de ler os blogs dos amigos e nunca comento (fail, né?)

eu sabia que você não iria se esquecer de como o liquido sagrado dos deuses é sensacional!

mesmo após um ano!!!


parabéns pelo texto
super bem escrito.

beijoca.