
Para a maior parte das pessoas, ficar sem energia elétrica é desesperador. Entediante. Eu acho o computador entediante. Sinceramente acho. Tem tanta coisa para fazer que não quero fazer nenhuma. A falta de luz foi boa. Gostei de ficar longe, de certa maneira, da tecnologia. As vezes ela sufoca, faz mal. Internet, comunicação com o mundo, acesso a um monte de informações. Me faz pensar, me faz lembrar de coisas que não quero, cansa. Cansei. E faz tempo.
Tomei um banho frio. Em todos os sentidos. Eu não ia, pretendia esperar a energia voltar, apesar do calor, mas pensei “que se dane, preciso disso”. Abri o chuveiro e, com a cara e a coragem, me meti embaixo dele. Lavei a alma, realmente. Foi o banho mais filosófico, poético e relaxante que já tomei em muito tempo. A água não estava gelada como eu pensei, era só questão de costume. Talvez um monte de coisas nessa minha vida não sejam tão insuportáveis quanto parecem, talvez eu só precise ir com a cara e a coragem e, quem sabe, eu me acostumo. Me adapto. E supero.
A idéia disso tudo que escrevi veio nesse período de quatro horas. Aliás, eu ia escrever à mão mesmo, com a luz de uma vela perfumada verde, quanta ironia, que minha mãe disse para eu trazer para o quarto. Mas, quando abri o caderno e peguei uma caneta, as luzes voltaram, como mágica, como sarcasmo do destino, como pura piada. Eu preferi continuar na escuridão, em minha mente. Não a escuridão tenebrosa e assustadora. Apenas a calma e silenciosa, porque essa vale a pena.